Milhões de seres humanos viveram e morreram por algumas das ideias mais geniais (e outras nem tanto) que a humanidade já produziu. Morreram pelo socialismo, ora de Marx, ora de Trotsky ou Lenin. Morreram pela Reforma de Lutero; pelos 10 Mandamentos dados a Moisés, pelo Corão dado a Maomé, pelo Budismo de Gautama, pela Bíblia … ou pelo nazismo de Hitler e seus asseclas.
Vamos chamar cada uma destas ideias – cada um desses modos sugeridos de viver – de X.
Acreditar que apenas um X resolveria todos os problemas da Terra é uma ingenuidade. Cada uma destas ideias, mesmo as mais abomináveis, tem algo a oferecer. Do socialismo, eu tomaria emprestado o modo de produção. Da Reforma, o amor à simplicidade. De Moisés, tudo. De Maomé, o respeito às viúvas1. Do Gautama, tudo. Do nazismo, nada — exceto, talvez, a organização meticulosa.
É típico dos humanos presumirem que uma ideia – e apenas uma – trará todos os resultados desejáveis do mundo. Ainda não aprendemos que capitalismo é só uma forma possível de estruturar a sociedade; que a democracia está longe de ser perfeita — e, às vezes, nem é desejável, como sabem os britânicos. Que as ideias de Chomsky na linguística não são verdades absolutas. E que o behaviorismo de Skinner, tantas vezes criticado, funciona bem em certos casos.
As ideias são como ferramentas. Cada uma tem forma, tamanho e aplicação próprias. Nenhuma ferramenta sozinha resolve todos os problemas. Cada qual serve para uma situação específica.
Na história recente da humanidade, temos uma ideia-ferramenta espetacular: A Declaração Universal do Direitos Humanos (acrônimo, em inglês, UDHR). Ela nasceu como resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Mas os humanos têm memória curta.
A UDHR deveria ser ensinada nas escolas. A bandeira das Nações Unidas (ONU) tremulando ao lado das bandeiras nacionais, como símbolo de um pacto civilizatório. Porém, nem todas as nações tratam essa declaração com seriedade. Centenas a assinam e endossam – mas, na prática, a ignoram. E não há sanção alguma para isso. Talvez porque a ONU não seja o exército mais poderoso da Terra e sim uma de suas maiores burocracias.
O romano Publius Flavius Vegetius Renatus escreveu, no século IV, “Si vis pacem, para bellum2”. Será que a única forma manter a paz é preparar-se para a guerra ? Creio que não. A educação é o remédio – e, talvez, o verdadeiro grande X.
Gratidão a Gabriela Barros – UERJ – pelas maravilhosas discussões sobre Chomsky e Skinner.