A. Proveita

Eu me chamo A. Proveita. Mas pode me chamar de Jaques. A ducha higiênica do vaso funcionava. Mas ela obrigava a usuária a virar o jato. – Não ! Propus uma extensão. – Isso não ! Vamos trocar tudo ! Quase cento e cinquenta pratas. Com fita e tal, foi a duzentos. Eu tinha que colocar ainda o acionador da descarga, usando a nova fita dupla Scotch Extreme- meu patrocinador aqui hoje, já que as bases dos parafusos estragaram :-).

Prá trocar o chuveirinho, tem que subir no apertado sótão, fechar a válvula, trocar, ver se está vazando, repetir a operação até que não haja dúvidas. Foram três viagens. Parou de vazar, afinal. Vamos fechar. – “Jaques” tá aí aproveita para retirar e limpar os lustres do banheiro ! – Qual banheiro ? – Todos !

Ainda hoje ela ne perguntou se a falta de água quente no banheiro das visitas era problema de válvula no sótão. Eu bem que tentei. Mas a válvula está inacessível para um cara de 183 cm e 100 Kg. Me sujei todo à toa. Lembrei de minha filha. Pequena, forte, ágil. Ela seria útil, com seu metro e meio e pouco de universitária. Mas ainda não. Ela estava longe, feliz e despreocupada, bebendo gin com as amigas. Filhas fazem falta também no sótão, ajudando papi.

Eu detesto hidráulica. A água sempre arruma um jeito de te sacanear. Adoro eletricidade. Então vamos aos lustres. – Depois ainda tem a luminária da cozinha, que está piscando.

Não posso reclamar. Ainda sobrou tempo para escrever essas palavras e lembrar como é bom estar casado com uma italiana e ter um sótão para me sujar, banheiro de visitas, chuveirinho. Isso afasta logo os pensamentos pequeno-burgueses. Aliás, por que “pequena burguesia” ? Todos os burgueses eram baixinhos na revolução russa ?

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